Sem paciência
No caminho de casa, há uma reta, uma estrada longa e direita. Fica na marginal, de um lado as extensas dunas e, do outro nada, não há qualquer habitação, comércio, apenas campos e uma instituição cuja entrada e saída se faz diretamente pela e para a tal reta. Em frente ao portão dessa instituição há um semáforo e se alguém exceder o limite máximo de velocidade que é bastante reduzido o sinal passa a vermelho. Nas primeiras vezes em que por lá passei respeitei-o. Fica-se parado no meio do nada à espera de dar prioridade à nossa própria vida, à espera da autorização para continuarmos com o nosso próprio dia. Para mim é disto que se trata, abrandar, saudar, parar para dar prioridade a quem nem se encontrava na estrada. A minha intolerância para qualquer tipo de vassalagem libertou-me desta obrigação obscena. Tenho gosto em passar naquele vermelho, não gosto de passar quando está verde porque é uma forma de me dizerem «deixamos-te passar». Para mim, este semáforo cumpre regras de subordinação, não cumpre regras de trânsito, muito menos de civismo. Não tenho paciência e já percebi que não sou a única, muitos fazem como eu, e ainda bem, ainda há sentido crítico.