Pompidou
Aqui, as manhãs parecem o final do dia em Portugal, durante o inverno. Às 8 horas parece que está a anoitecer, parece que o dia acorda ao contrário. Comi o pequeno-almoço sem pressa, no Novotel Paris, onde tenho ficado, em Belleville. É neste bairro que tenho os dois apartamentos, muito perto deste hotel. Depois do pequeno-almoço, apanhei o metro até ao Centro Pompidou. Está a decorrer a exposição da obra de Suzanne Valadon e perante o quadro “Catherine nue allongée sur une peau de panthère” tive uma inspiração. Se uma obra tem impacto intelectual sobre mim, impele-me a uma ação, que pode ser uma pintura, um texto, um desenho… Neste caso foi uma fotografia: reproduzir o quadro em fotografia. Afastarei a mesa da sala e, sobre o tapete persa, colocarei uma manta antiga que pertencia aos meus avós, que embora não tenha o padrão de uma pantera, há algo nela que faz sentido para a fotografia. Deitar-me-ei nua com o mesmo ar cansado ou desanimado no rosto, de barriga para cima, os joelhos tombados para o lado. Recriarei a mesma natureza morta à minha volta. Tenho um jarro em vidro tal e qual ao da fotografia, o mesmo tom de azul, onde irei colocar quatro cravos vermelhos e pousá-lo junto à minha mão esquerda.
À saída do Pompidou, na loja das recordações, comprei um postal de tamanho médio desta obra. Guardei-a entusiasmada, no meio do caderno, com a ideia de a reproduzir quando chegar a casa.