Páscoa
Este sábado houve uma espécie de segunda Páscoa em casa dos meus pais. Como é difícil juntarem os quatro filhos no domingo de Páscoa, a minha mãe resolve, todos os anos, fazer um sábado de Páscoa no fim de semana a seguir com todos os filhos, netos, noras e famílias das noras, isto é, os respetivos pais, irmãos e cada uma das suas famílias. Não entendo a dedicação do tempo e dinheiro a esta gente toda que, por vezes, me parece desmerecedora e ingrata. A minha mãe responde-me que o faz porque tem uma casa grande como se ter uma casa grande seja uma obrigação moral para o que quer que seja.
Cheguei ao final do dia esgotada. Os risinhos, as provocações aparentemente inocentes, o maneirismo de quem se acha mais do que é, de quem pensa saber mais do que sabe. Não sei como as pessoas se casam quando sabem que ao se casarem não se casam apenas com uma pessoa, mas com uma família inteira. Imagino que tenham o compromisso de se encontrarem pelo menos uma vez por semana, a canseira mental que isso deve ser.
Usei a estratégia mais inteligente, convivi essencialmente com as crianças, a pureza das suas almas ainda é dificilmente corrompida, mas recusei-me a brincar com elas às escondidinhas ou apanhadinhas, há limites. Ofereci a cada uma um livro, o meu presente da Páscoa, açúcar para o cérebro. Apesar de ter vários sobrinhos é uma tarefa que se torna fácil. Como têm mais ou menos a mesma idade, aos meninos ofereci diferentes livros da coleção do Minecraft, e com as meninas fiz o mesmo, ofereci diferentes livros da coleção do Unicórnio. Assim, podem trocar ou emprestar livros entre eles. Ficaram felicíssimas, e assim se vê como estas crianças estão a ser bem criadas, a amarem a leitura.
Pouco depois das 20 horas regressei a casa com o N. e a leve dor de cabeça que senti durante o dia inteiro desvaneceu-se.