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Caderno de Amélia de Valois Gouge

Caderno de Amélia de Valois Gouge

21
Mar25

Olfato

O meu olfato não funciona segundo as regras dos sentidos, tem uma forma autónoma de se manifestar. Se estou com outras pessoas e elas começam a queixar-se do mau cheiro, eu não o sinto. Passados cinco minutos, sou capaz de o sentir e dizer: «ah, agora já estou a sentir o tal cheiro», como se tivesse chegado com atraso até mim. Com os odores bons passa-se o mesmo, talvez seja por isso que não tenha grande prazer em comer, são raros os momentos em que isso acontece, talvez quando o meu olfato resolve sentar-se à mesa comigo. Depois, há outra coisa que acontece e talvez seja o que mais me incomoda. De repente, sinto odores de forma muito intensa que desaparecem logo a seguir, em sítios onde não faz sentido que isso aconteça. Pode ser o odor nauseante a esgoto, a intensidade de velas a arderem, o cheiro repulsivo da transpiração intensa do sovaco, ou então, o aroma perfeito de um bom perfume. Não é algo que possa escolher, mas sou atropelada a qualquer momento pela intensidade de um odor qualquer, e não sei onde passei por ele, mas manifesta-se com atraso de um dia, uma semana, não sei dizer, fica certamente guardado num sítio do meu cérebro até chegar ao último canal de transmissão do olfato e se libertar.

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Amélia de Valois Gouge é um heterónimo da escritora Ana Gil Campos.