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Caderno de Amélia de Valois Gouge

Caderno de Amélia de Valois Gouge

11
Mar25

Cabelo branco

Ontem, entrei numa loja de produtos para cabelo, rosto, corpo e algumas velas perfumadas para casa. Disse logo o que pretendia: shampoo. A jovem que me atendeu explicou sucintamente e com conhecimento a função de cada linha. Fiquei curiosa por uma que disse manter a cor natural dos fios. Perguntei-lhe se era própria para cabelos brancos. Ela informou-me que normalmente é indicado para pessoas com cabelo ruivo ou louro, mas que serve para manter a cor de qualquer cabelo, inclusive o branco. Acrescentou que se estava a fazer a experiência de o manter branco seria um bom shampoo a usar. Achei-lhe graça, contei-lhe não estar a fazer qualquer experiência, que o mantenho branco desde que começou a nascer desta cor. A jovem mulher atrapalhou-se e justificou-se com amabilidade.

Há alguns meses, fui comprar, numa parafarmácia, um shampoo específico para cabelos brancos, daqueles que se usam apenas uma vez por semana para que os fios não passem à cor amarela. A funcionária que me atendeu, talvez com mais uma década do que eu e nenhum cabelo branco, avisou-me que o shampoo não retarda o nascimento de cabelos brancos, apenas evita que estes amareleçam. Eu sorri com estranheza pela sua observação, disse-lhe ter essa consciência e acrescentei achar os cabelos brancos bonitos.

Depois do atendimento de ontem, regressei a casa a refletir no que estas lojistas mulheres se põe a dizer a clientes mulheres. Será julgamento inconsciente pelo preconceito que têm em relação aos cabelos brancos, sem qualquer dúvida incutido pela sociedade em que elas próprias se tornaram também um veículo dessa obrigação social e de estereótipo de beleza em que as mulheres não devem ter cabelos brancos, isto é, estão proibidas de envelhecer?; ou será o aconselhamento que fazem depois de atenderem mulheres que talvez procurem produtos capilares milagrosos que evitem o aparecimento de cabelos brancos?

Ainda agora acho graça à frase da jovem que me atendeu, de estar a fazer a experiência de o manter branco. Tenho talvez dez por cento do cabelo branco, que embora pareça pouco, destaca-se entre o cabelo castanho. Mas talvez a jovem tenha razão no que disse, neste mundo em que a maioria das mulheres não consegue encontrar a própria beleza na sua naturalidade, mas a experiência que estou a fazer não é pessoal, trata-se de uma experiência social, juntamente com outras mulheres, poucas, que deixam o próprio cabelo estar como é neste momento. Encontrar a beleza na expressão do nosso corpo na vida, encorajá-la e cuidar dela em que vez de a encobrir.

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Amélia de Valois Gouge é um heterónimo da escritora Ana Gil Campos.