Regresso
Regressei ao Porto, no sábado. Tive vontade de ficar mais quatro dias. Custou-me a ideia da partida, mas o preço do hotel por noite… É inevitável, tenho de falar com o meu agente imobiliário, o que trata dos alugueres dos apartamentos, para me encontrar um pequeno no centro de Paris. Um que será apenas meu, sem alugueres nem empréstimos. Poder ir e vir sempre que tenho vontade, sem condicionantes, ficar o tempo que entender, um mês se me apetecer, quem sabe mais. Mas não será uma mudança de residência.
O avião, no sábado, pousou sobre o pôr-do-sol vermelho e amarelo, extenso num azul profundo. Quero isto também, quero tudo que me enche a alma.
Agora, bebo café com o olhar posto no jardim da minha casa, sentada no apoio de braço do sofá. Duas alvéolas-brancas procuram bichos para se alimentarem, saltitam de um lado para o outro, levantam da terra larvas e minhocas com o bico que engolem erguendo a cabeça. O musgo miúdo, verde, cobre a terra onde a relva não cresceu e as nuvens desfazem-se no céu, umas brancas, fixas, outras cinzentas, mais próximas, parecem mover-se com pressa, carregadas de chuva, certamente. O mundo sempre em mudança aparente, ciclos da vida, da natureza, do comportamento do Homem.